domingo, 8 de julho de 2012

MÉTODOS DE ENSINO


Ø COMPORTAMENTALISMO


No método tradicional, o professor planeja, estimula e passa o conhecimento aos alunos



 O FOCO É A TRANSMISSÃO DE CONTEÚDOS
----- PAGINA 01 -----
QUEM FOI O PAI DA IDÉIA: o psicólogo norteamericano Burrhus Frederic Skinner (1904-1990).

O QUE DIZ: que é possível modelar o indivíduo, condicionando seus comportamentos. Para tanto, devem-se utilizar os estímulos e reforços adequados. Segundo Skinner, todo comportamento é determinado pelo ambiente, mesmo que a relação do indivíduo com esse ambiente não seja passiva, e sim de interação. Ou seja, um professor pode definir que resultado pretende alcançar com seus alunos e oferecer-lhes os estímulos e recompensas adequados à medida que os alunos avançam.
ONDE ESTÁ O FOCO: nos conteúdos a serem transmitidos e no professor.
QUAL É O PAPEL DO PROFESSOR: o professor, ou até o livro didático, em alguns casos, é a autoridade máxima, detentora do conhecimento. O aluno é o aprendiz que deve absorver esse conhecimento quanto mais, melhor.
COMO SE ­APRENDE: por memorização e repetição. Sabe aquelas aulas de inglês em que a professora dizia: "Children, repeat after me..."?
COMO SE INTRODUZ UM NOVO CONCEITO: o professor faz um planejamento e apresenta os conceitos. Algo do gênero: "Crianças, hoje vamos estudar as equações de segundo grau".
QUAIS SÃO OS REFLEXOS NA SALA DE AULA: as aulas, em geral, são expositivas, com o professor falando e a turma, de preferência, quieta. Erros são corrigidos imediatamente e recorre-se à repetição.
QUE TIPO DE INDIVÍDUO ESPERA-SE FOR­MAR: pessoas com vasto saber enciclopédico. Indivíduos focados no trabalho, que correspondem às demandas e se ajustam bem aos ambientes.


Ø CONSTRUTIVISMO


Neste método, a criança constrói o conhecimento por meio de descobertas

O CONSTRUTIVISMO VALORIZA O CONHECIMENTO PRÉVIO DO ALUNO
----- PAGINA 01 -----
QUEM FOI O PAI DA IDÉIA: o bió­logo suíço Jean Pia­get (1896-1980).

O QUE DIZ: segundo Piaget, o pen­sa­mento infan­til passa por qua­tro está­gios, desde o nas­ci­mento até o iní­cio da ado­les­cên­cia, ­quando a capa­ci­dade plena de racio­cí­nio é atin­gida. Assim, a criança cons­trói o conhecimento a par­tir de suas des­co­ber­tas, ­quando em con­tato com o mundo e com os obje­tos. Por isso, não ­adianta ensi­nar a um aluno algo que ele ainda não tem con­di­ções inte­lec­tuais de absor­ver. Ou seja, o tra­ba­lho de edu­car não deve se limi­tar a trans­mi­tir con­teú­dos, mas a favo­re­cer a ati­vi­dade men­tal do aluno. Por isso, impor­tante é não ape­nas assi­mi­lar con­cei­tos, mas tam­bém gerar ques­tio­na­men­tos, ­ampliar as ­idéias.
ONDE ESTÁ O FOCO: no aluno e em suas ope­ra­ções men­tais.
QUAL É O PAPEL DO PRO­FES­SOR: obser­var o aluno, inves­ti­gar quais são os seus conhe­ci­men­tos pré­vios, seus inte­res­ses e, a par­tir dessa baga­gem, pro­cu­rar apre­sen­tar diver­sos ele­men­tos para que o aluno cons­trua seu conhe­ci­mento. O pro­fes­sor cria situa­ções para que o aluno che­gue ao conhe­ci­mento. 

COMO SE ­APRENDE: expe­ri­men­tando, viven­ciando.
COMO SE INTRO­DUZ UM NOVO CON­CEITO: para falar em mul­ti­pli­ca­ção, por exem­plo, o pro­fes­sor pode apre­sen­tar uma seqüên­cia de somas, até que o aluno che­gue ao con­ceito da mul­ti­pli­ca­ção. Nada de deco­rar ­tabuada. Ou, para apre­sen­tar for­mas geo­mé­tri­cas, o pro­fes­sor dará aos alu­nos ­vários mate­riais, eles farão dese­nhos e obser­va­rão figu­ras até per­ce­be­rem o cír­culo, o qua­drado, o triân­gulo, etc.
QUAIS SÃO OS REFLE­XOS NA SALA DE AULA: há menos inter­fe­rên­cia do pro­fes­sor, que res­peita as fases do aluno e pro­cura cor­res­pon­der aos seus inte­res­ses. As salas têm mais obje­tos para manu­sear, mais mate­rial, como blo­cos lógi­cos, figu­ras, etc. As cor­re­ções não acon­te­cem de modo ime­diato, pois os erros são con­si­de­ra­dos parte do pro­cesso de apren­di­za­gem.
QUE TIPO DE INDI­VÍ­DUO ­ESPERA-SE FOR­MAR: pes­soas com auto­no­mia. Gente que inte­rage com o meio, que tem ­idéias pró­prias e é capaz de criar, com uma visão par­ti­cu­lar do mundo.



Ø SOCIOCONSTRUTIVISMO

 Neste método, o aprendizado não se subordina ao desenvolvimento das estruturas intelectuais da criança, mas um se alimenta do outro


O TRABALHO EM GRUPO É UMA FERRMENTA-CHAVE PARA A BUSCA DO CONHECIMENTO

----- PAGINA 01 -----QUEM FOI O PAI DA IDÉIA: o psi­có­logo bielo-russo Lev ­Vygotsky (1896-1934).

O QUE DIZ: ele foca a inte­ra­ção. ­Segundo ­Vygotsky, todo apren­di­zado é neces­sa­ria­mente ­mediado – e isso torna o papel do ­ensino e do pro­fes­sor mais ativo do que o pre­visto por Pia­get. O apren­di­zado não se subor­dina ao desen­vol­vi­mento das estru­tu­ras inte­lec­tuais da ­criança, mas um se ali­menta do outro, pro­vo­cando sal­tos qua­li­ta­ti­vos de conhe­ci­mento. O ensino deve se ante­ci­par ao que o aluno ainda não sabe nem é capaz de apren­der sozi­nho. É a isso que se ­refere um de seus prin­ci­pais con­cei­tos, o de "zona de desen­vol­vi­mento pro­xi­mal", que seria a dis­tân­cia entre o desen­vol­vi­mento real da ­criança e ­aquilo que ela tem poten­cial de apren­der, ou entre "o ser e o tor­nar-se".
ONDE ESTÁ O FOCO: na inte­ra­ção. É na rela­ção aluno-pro­fes­sor e aluno-aluno que se pro­duz conhe­ci­mento.
QUAL É O PAPEL DO PRO­FES­SOR: ele atua como media­dor entre o aluno, os conhe­ci­men­tos que este pos­sui e o mundo.
COMO SE ­APRENDE: obser­vando o meio, ­entrando em con­tato com o que já foi des­co­berto e orga­ni­zando o conhe­ci­mento junto com os ­outros (pro­fes­sor e turma).

COMO SE INTRO­DUZ UM NOVO CON­CEITO: se as crian­ças vão apren­der sobre doen­ças, por exem­plo, pri­meiro o pro­fes­sor as ­coloca ­diante de pro­ble­mas para que os resol­vam com o que já sabem e mos­tra a elas a neces­si­dade de novos sabe­res, que terão de encon­trar de dife­ren­tes for­mas. Então, ele as auxi­lia nesse pro­cesso de busca de novos conhe­ci­men­tos. Eles podem tanto ir entre­vis­tar um ­médico (o pro­fes­sor orien­tará a turma sobre como fazer uma entre­vista), como con­sul­tar um livro ou a inter­net.
QUAIS SÃO OS REFLE­XOS NA SALA DE AULA: há mais cola­bo­ra­ção e tra­ba­lhos em grupo. Parte-se do conhe­ci­mento coti­diano para se che­gar à pro­du­ção de conhe­ci­mento. O pro­fes­sor pro­põe tare­fas que desa­fiam os alu­nos. Erros são con­si­de­ra­dos parte do apren­di­zado – eles mos­tram ao pro­fes­sor como o aluno está racio­ci­nando. Os con­teú­dos são apre­sen­ta­dos por temas: ­aprende-se sobre escra­vi­dão, por exem­plo, inves­ti­gando como ela se deu em ­vários perío­dos, e não neces­sa­ria­mente pela ordem cro­no­ló­gica. Uti­li­zam-se, para isso, mui­tos mate­riais: repor­ta­gens, fil­mes, etc.
QUE TIPO DE INDI­VÍ­DUO ­ESPERA-SE FOR­MAR: pes­soas coo­pe­ra­ti­vas, que ­tenham com­pro­misso com o mundo e com o outro, que sai­bam tanto expor suas ­idéias ­quanto ouvir. Gente que não neces­sa­ria­mente terá um conhe­ci­mento enci­clo­pé­dico, mas que saberá como pro­cu­rar as infor­ma­ções que lhe fazem falta.



Ø WALDORF


Clareza do raciocínio, equilíbrio emocional e iniciativa de ação são alguns dos pontos enfatizados por este método de ensino


O PROFESSOR ACOMPANHA A TURMA POR SETE ANOS

----- PAGINA 01 -----QUEM FOI O PAI DA IDÉIA: o educador austríaco Rudolf Steiner (1861-1925)

O QUE DIZ: a vivência deve preceder a teoria. Deste modo, o método prevê que o currículo escolar deve ser individualizado e levar em conta apenas as necessidades de aprendizado do aluno em cada fase da sua vida.
ONDE ESTÁ O FOCO: no aluno e no tutor.
QUAL O PAPEL DO PROFESSOR: cada classe tem um tutor responsável por todas as matérias, que acompanha a mesma turma durante sete anos. "Nós precisamos ser uma referência de comportamento e disciplina para que o aluno possa se espelhar", justifica Alfredo Rheingantz, professor e membro da coordenação da Escola Waldorf Rudolf Steiner. Durante o período correspondente ao Ensino Médio, as classes ganham professores especialistas, mas continuam com um tutor.

COMO SE APRENDE: o ensino é dividido em ciclos de sete anos (de 0 a 7, de 8 a 14 e de 15 a 21 anos) e não há repetência, justamente para que as etapas de aprendizagem possam estar em sintonia com o ritmo biológico próprio de cada idade. Como não há provas, as avaliações são baseadas nas atividades diárias, que resultam em boletins descritivos sobre o comportamento, a maturidade e o aproveitamento dos estudantes.

COMO SE INTRODUZ UM NOVO CONCEITO: outra característica da pedagogia Waldorf é o ensino em épocas. Em vez de ter aulas de diversas disciplinas ao longo do dia ou da semana, o aluno passa quatro semanas apenas vendo uma única matéria. "Isso permite que o aluno lembre mais facilmente o que viu e aprofunde melhor os conteúdos", diz Rheingantz.
QUAIS SÃO OS REFLEXOS NA SALA DE AULA: no primeiro ciclo, a ênfase é no desenvolvimento da coordenação motora e no despertar da memória. Como essa fase é dedicada principalmente às atividades lúdicas, ela não inclui o processo de alfabetização, que acontece apenas no segundo ciclo. Neste, que corresponde ao ensino fundamental, o foco é na educação dos sentimentos para que os alunos adquiram maturidade emocional. Daí a pedagogia Waldorf ser repleta de atividades artísticas, como música, teatro e artes plásticas, além de trabalhos manuais, como marcenaria, tricô e jardinagem.
QUE TIPO DE INDIVÍDUO ESPERA-SE FORMAR: o método Waldorf visa desenvolver a personalidade do aluno, florescendo nele a clareza do raciocínio, equilibro emocional e a iniciativa de ação. Ao final da escola, o estudante está pronto para exercitar o pensamento e fazer uma análise crítica do mundo.

Ø MONTESSORI

O objetivo da teoria de ensino e aprendizagem criada por Maria Montessori é a formação integral do jovem, uma "educação para a vida"

 
ALUNOS DO COLÉGIO POETA DRUMMOND, QUE ADOTA O MÉTODO DE ENSINO MONTESSORI

----- PAGINA 01 -----
QUEM FOI O PAI DA IDÉIA: a pedagoga italiana Maria Montessori     (1870-1952)

O QUE DIZ: a linha montessoriana valoriza a educação pelos sentidos e pelo movimento para estimular a concentração e as percepções sensório-motoras da criança.

ONDE ESTÁ O FOCO: no aluno. A teoria montessoriana crê que as crianças trazem dentro de si o potencial criador que permite que elas mesmas conduzam o aprendizado e encontrem um lugar no mundo. “Todo conhecimento passa por uma prática e a escola deve facilitar o acesso a ela”, diz a educadora Talita de Oliveira Almeida.
QUAL O PAPEL DO PROFESSOR: Maria Montessori foi pioneira no campo pedagógico ao dar mais ênfase à auto-educação do aluno do que ao papel do professor como fonte de conhecimento. “Ela acreditava que a educação é uma conquista da criança, pois percebeu que já nascemos com a capacidade de ensinar a nós mesmos, se nos forem dadas as condições”, diz Talita. Assim como no construtivismo, os professores assumem o papel de guia, conduzindo e motivando o aluno no processo de aprendizado
.- PAGINA 02 -----
----- PAGINA 03 -----
COMO SE APRENDE: o método Montessori parte do concreto rumo ao abstrato. Baseia-se na observação de que meninos e meninas aprendem melhor pela experiência direta de procura e descoberta. Para tornar esse processo o mais rico possível, a educadora italiana desenvolveu os materiais didáticos que constituem um dos aspectos mais conhecidos de seu trabalho. São objetos simples, mas muito atraentes, e projetados para provocar o raciocínio. Há materiais pensados para auxiliar todo tipo de aprendizado, do sistema decimal à estrutura da linguagem.
COMO SE INTRODUZ UM NOVO CONCEITO: na Educação Infantil, enfatiza a manipulação de peças de tamanhos, formas, texturas e cores diferentes. Na alfabetização, com a ajuda de objetos como o alfabeto móvel, utiliza-se o método fonético, em que o aprendizado parte do som da letra para se construir a palavra e depois o texto. Devido principalmente, às exigências do vestibular, a pedagogia montessoriana raramente é aplicada no Ensino Médio. 


QUAIS OS REFLEXOS NA SALA DE AULA: crianças de idades diferentes são agrupadas numa mesma turma. Nessas classes multiidades, alunos de 5 e 6 anos estudam na mesma sala e seguem um programa único. Posteriormente eles passam para as turmas de 7 e 8, em seguida para as de 9 e 10, e, finalmente, alcançam o último estágio, que agrega jovens de 11, 12, 13 e 14 anos. Até os 10 anos, os alunos têm aulas com um único professor polivalente, enquanto nas salas de 11 a 14, esse professor ganha a companhia de docentes específicos para cada uma das disciplinas.
----- PAGINA 03 -----
Para que esse método funcione bem, freqüentemente há atividades em duplas, trios ou grupos. Dependendo do conteúdo, o professor pode dividir a classe em grupos por idade. A maior parte do material didático, especialmente entre os mais novos, é de uso coletivo, como livros e lápis. A avaliação é feita para todas as tarefas, portanto, não existem provas formais. “Além de dar um conceito para cada aluno, os professores preparam boletins detalhados, especificando as posturas e os procedimentos dos estudantes”, conta Edimara de Lima, diretora pedagógica da Escola Prima Montessori de São Paulo

QUE TIPO DE INDIVIDUO PRETENDE FORMAR: individualidade, atividade e liberdade do aluno são as bases da teoria, com ênfase para o conceito de indivíduo como, simultaneamente, sujeito e objeto do ensino. Montessori defendia uma concepção de educação que se estende além dos limites do acúmulo de informações. O objetivo da escola é a formação integral do jovem, uma “educação para a vida”. A filosofia e os métodos elaborados pela médica italiana procuram desenvolver o potencial criativo desde a primeira infância, associando-o à vontade de aprender – conceito que ela considerava inerente a todos os seres humanos.


“Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas” Rubem Alves

“ Sessenta anos atrás eu sabia tudo, hoje sei que nada sei. A educação é o descobrimento progressivo da nossa ignorância”

William J. Durant

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Na educação ... 

   ACREDITAR e AGIR   



Um viajante ia caminhando em solo distante, as margens de um grande lago de águas cristalinas. Seu destino era a outra margem.

Suspirou profundamente enquanto tentava fixar o olhar no horizonte. A voz de um homem coberto de idade, um barqueiro, quebrou o silêncio momentâneo, oferecendo-se para transportá-lo.

O pequeno barco envelhecido, no qual a travessia seria realizada, era provido de dois remos de madeira de carvalho. Logo seus olhos perceberam o que pareciam ser letras em cada remo. Ao colocar os pés empoeirados dentro do barco, o viajante pode observar que se tratava de duas palavras, num deles estava entalhada a palavra ACREDITAR e no outro AGIR.

Não podendo conter a curiosidade, o viajante perguntou a razão daqueles nomes originais dados aos remos. O barqueiro respondeu pegando o remo chamado ACREDITAR e remando com toda força. O barco, então, começou a dar voltas sem sair do lugar em que estava. Em seguida, pegou o remo AGIR e remou com todo vigor. Novamente o barco girou em sentido oposto, sem ir adiante.

Finalmente, o velho barqueiro, segurando os dois remos, remou com eles simultaneamente e o barco, impulsionado por ambos os lados, navegou através das águas do lago chegando ao seu destino, à outra margem.

Então o barqueiro disse ao viajante:
- Esse porto se chama autoconfiança. Simultaneamente, é preciso ACREDITAR e também AGIR para que possamos
alcançá-lo !        



Autor desconhecido 

quinta-feira, 28 de junho de 2012


Declaração de Hamburgo sobre Educação de Adultos UNESCO, 1997.

A educação ao longo da vida implica repensar o conteúdo que reflita certos fatores, como idade, igualdade entre os sexos, necessidades especiais, idioma, cultura e disparidades econômicas.

Engloba todo o processo de aprendizagem, formal ou informal, onde pessoas consideradas "adultas"pela sociedade desenvolvem suas habilidades, enriquecem seu conhecimento e aperfeiçoam suas qualificações técnicas e profissionais, direcionando-as para a satisfação de suas necessidades e as de sua sociedade.

A educação de adultos inclui a educação formal, a educação não-formal e o espectro da aprendizagem informal e incidental disponível numa sociedade multicultural, onde os estudos baseados na teoria e na pratica devem ser reconhecidos.

segunda-feira, 18 de junho de 2012


Que raio de professora sou eu?

Fanny Abramovich


Vira e mexe reprisam, na TV, um filme muito bonito e sensível.O Conrak, com o John Voight no papel principal.

É a história de um professor. Que vai trabalhar com as crianças mais carentes, mais assustadas, mais analfabetas, mais medrosas de que já se ouviu falar... E isso, em pleno Estados Unidos, nos anos 70. Num estado do sul. Espantosa a pobreza e a ignorância. Das crianças, das famílias, da diretora da escola.

O trabalho que o Conrak faz é comovente. Vai com tudo. De um modo sensível, paciente, humorado. Brinca, leva as crianças pra praia e pro mato, ensina em cima das árvores, corre e salta, inventa canções e ritmos, fala sobre qualquer assunto. Vai na das crianças. Com elas. Por elas. Começa e recomeça. Um montão de vezes... Atento, atento. Ao novo, ao desconhecido, aos preconceitos, à discriminação.

Ele é dedicado, mas é despedido. Mandado embora porque não corresponde aos interesses dos brancos-classe-média-que- mandam-nas-inspetorias-de-ensino-dos-mundinhos-medíocres... O que fica, do que fez, no coração e na mente, nos olhos e ouvidos das crianças é o fundamental. Entenderam. Valeu pra elas. Arrepiantemente bonito!

Choro sempre que vejo este filme. Choro mansinho. De emoção, não de desespero. Me comove.

Hoje foi diferente. Senti saudades de um tempo em que acreditava que valia a pena me jogar num trabalho. Por inteira, Agora, ando acomodada. Medrosa. Em vez de ir pra frente, sinto que you pra trás... E qual é o sentido de querer ensinar, de querer abrir cabeças, se a minha está fechada? Seguindo só o certo e o conhecido... Fico com inveja do Conrak destemido e despedido. Pra ele, valeu. Pros seus alunos também. E para os meus? Será que valerá? Duvido... É bom quando consigo me questionar. Ir mais fundo. Mesmo sabendo que ando inútil, me sinto viva.

(...)

Fui chamada pela coordenadora. Intimação urgente. Corri para a sua sala. Mal me cumprimentou. Formal, rígida, dura. Perguntou sobre minhas aulas. No melhor estilo de uma arguição oral. Me senti como uma aluna sendo examinada. Tremendo nas bases. Perguntou sobre a verificação dos questionários e exercícios. Respondi que trabalho com perguntas abertas. Nada de apontar o "verdadeiro" e o "falso".

Fechou a cara. Quis saber como avalio o uso dos conceitos. Disse que tinha minhas dúvidas sobre a correção de certos conceitos. Olhou a sua ficha. Devagar. Fui ficando nervosa. Ela testando a minha resistência. Olhei. Desviou o olhar. Fiquei sem ar. A pausa continuou. Por séculos. Interminável.

Falou. Que não tinha gostado do meu relatório. Nada mesmo. Que vários pais já tinham reclamado. Dado queixas sobre minhas aulas. E mais. Tínhamos um método comum de avaliação. Pra ser seguido a respeitado. Passo a passo. Item por item.

Esbravejei. Disse que não concordava com o método imposto pela escola e que não estava gostando de sua cobrança. Que viesse ver o que acontecia com meus alunos. Com seus próprios e sábios olhos e boca. Conferisse no real. Nas salas. Podíamos discutir meus critérios quando quisesse. Mas sem prévios julgamentos apoiados em fofocas e na ignorância de pais que acham que História é uma sucessão de datas e nomes empolados.

Ficou fula. Fiquei fula. Me dispensou. Anotou coisas em sua preciosa ficha. Provavelmente horrores sobre a minha pessoa e a minha pedagogia. Saí batendo a porta. Rodando a baiana. Respirei fundo. Fui me acalmando.

Entrei na classe. 0 primeiro aluno que fez uma gracinha foi convidado a responder a uma arguição oral. Na hora. Me olhou com ódio. Respondeu tudo. Dei nota bem mais baixa do que merecia.

Saí da escola abobalhada. Comigo. Com minhas dificuldades com a autoridade: Não a aceito quando vem em cima de mim. E descarrego nos alunos. Igualzinho. De cima pra baixo. Sem pensar. Só pra me afirmar. Ela ameaçou me suspender, despedir... Eu ameacei reprovar, pôr pra recuperação. Eu fechei a cara pra ela a me defendi. Sabendo dos meus objetivos pedagógicos. 0 aluno fechou a cara pra mim e se defendeu. Sabendo a matéria. Igualzinho. Em degraus da escada. Que vergonha... Repetir comportamentos absurdos como forma de afirmação. Como vingança. Descontando num guri de doze anos. Que raio de professora eu sou???

Vou ter que pensar em tudo isso. Muito bem pensado.

Preciso aprender a me abrir pra uma discussão. Não ir jogando pedras em quem me questiona. E pior. Não pelo questionamento em si. Muito mais pelo posto do perguntador, que faz com que o veja como juiz da Santa Inquisição. E eu, como ré. Ridículo.

Poderia ter falado com a coordenadora. Nem tentei. Não expliquei nada. Só disputei no braço-de-ferro. E perdi as duas brigas. Com ela e com o aluno. Pra mim, na minha autoavaliação, estou reprovada.

(...)

Estou mexida. Mexidíssima. Numa linda!

Encontrei num barzinho uma ex-aluna. Lídia. TrabaIhei com ela um bom tempo. E faz tempo... Tanto, que já está terminando a faculdade. Quase cai de susto. Está cursando História. Aí, caí de susto mesmo.

Depois dos abraços, dos alôs, dos "lembra de fulano", "tem visto sicrano?" a "nossa, como era divertido naquele tempo", ela olhou bem nos meus olhos. Lá dentro. E disse assinzinho:

- Laura, foi você quem me ensinou a fazer uma análise de um fato e de um texto. Pra valer. Como separar o confuso, descartar o desimportante, mergulhar no fundamental, descobrir as entrelinhas. Foi básico pra mim. Foi não, é. Tem sido, até na faculdade. É assim que analiso.

Fiquei vermelha. E muda. Ela continuou:

- Laura, foi você que me ensinou a duvidar. A não acreditar em qualquer livro nem na primeira opinião. A interrogar sempre. Isto me norteia até hoje.

Fiquei roxa. E continuei muda.

- E tem mais. Se escolhi História, hoje sei que foi por sua causa. Descobri o mundo. Meu mundo. Só que não you dar aulas. Quero partir para a pesquisa. Ser historiadora. Queria muito te encontrar, pra te dizer isso tudo. Você foi muito importante pra mim. Mais do que supõe...

Dei um sorriso besta pra disfarçar a minha sem-gracice.

Conversamos mais um pouco. Algumas abobrinhas pra relaxar. Muitas fofocas pra rir. E desengasgar a baita emoção. Nos despedimos com um abraço apertado. Grande. Grato dos dois lados. Bonito!

Fui embora com o coração batendo forte. Fortíssimo!

Lídia foi minha aluna há seis, sete anos. Nem das mais brilhantes. Não das que se nota especialmente. Não daquelas em quem apostaria. Como me enganei... Nunca imaginaria que a tivesse marcado. E tanto...

Volto pra seis, sete anos atrás. O que fiz como professora que nem percebi. Ou percebi tão mal. Com aquela turma, naquela época... Algumas atitudes e escolhas minhas eram claras a seguras. Outras, embaralhadas, confusas, seguindo modas. Não saberia sintetizar tão claramente o que fiz e o que quis com eles. Lídia soube. Analisou, separou, balanceou e me devolveu. De uma maneira linda. E tão generosa. Nem sabia o que tinha dado pra eles. Agora, sei. E me sinto uma giganta. Enorme! De pura contenteza.

Momentos assim valem o sufoco, o desânimo e a frustração do dia-a-dia. Que parecem tão desgastantes quando não se percebe a amplitude do que está se fazendo. Quando se perde a noção do que é que importa. Estou de bem comigo, com a História, com a educação. Que lindeza de encontro!!!

(...)

Estou contente! Vibrando!!

Aula pra 5ª série A. Uma turma que morre de sono. Acham tudo chatíssimo. Velharias dispensáveis. Estávamos nas tentativas de independência do Brasil. Chegamos à Inconfidência Mineira. Crente que não ia dar pano pra manga. Que ia ser aquela mesmice. Paradeza bocejante. Surpresa total!! Acordaram!! Sacaram lances geniais. Relação da Inconfidência com o presente e o passado recente do nosso país. A derrama e os impostos atuais, as perseguições aos intelectuais. Puxei a corda sem parar. Foram longe e fundo. Os olhos arregalados, as caras pedindo mais... Vão ter, ora se... Continuo na próxima aula e se precisar, pego mais outra. Parece que Tiradentes tocou no nervo certo. Nada como um dentista...

Uma aula que me deu um prazer que não sentia há um tempão. Fiquei de bem com a turma. Esperançosa. Sentindo uma gostosura boa. É tão estimulante quando eles se interessam...

(...)

Fio puxa fio!

De manhã, tive uma conversa linda! Com Sandra, uma aluna. Me procurou com olhar de espanto. Querendo saber sobre as modificações diárias no seu corpo. Os seios surgindo, a cintura reta, as espinhas infernizando, partes crescendo mais do que as outras. Uma feiura que não dava pra aguentar. Falamos. Bastante. Expliquei o que pude. Continuamos o papo na saída. Indiquei uns livros para ela ler. Contei como aconteceu igualzinho comigo quando também tinha doze, treze anos. Como isso sucedia com todas as muIheres. Era sofrido, chato. Às vezes, insuportável. Parecia interminável. Um nunca acabar. Crescer e se preparar para ser mulher, demorava. Muito!

Foi um papo bom. Bonito! Calhou de ser no momento certo da minha vida, pra falar disso. Verdadeiramente. Emocionadamente! Gosto quando me procuram pra dizer das aflições íntimas, angustiantes. Me sinto bem por ser a escoIhida, por inspirar confiança.

Entrei em casa e encontrei uma carta de um ex-aluno. Contando de sua vida nova, lá nas Minas Gerais. Com saudades daqui, de coisinhas que por lá não tem não... Estava se saindo bem na nova escola, por conta do que aprendeu comigo. Impressionando. É o bambambã em História da turma. Segue os passos que caminhamos juntos. Ano passado, retrasado, achava aquilo tudo uma bobagem. Da grande. Agora, entende. E como! Diz que espera uma carta minha. Vou responder, claro...

Peguei um Campari pra comemorar. Beberiquei mansamente. Brindei às alegrias de ser professora!

Editora Scipione, 2002